Sociologia da religião
Sociologia da religião
1) Introdução
Sociologia da religião busca explicar as relações mútuas entre
religião e sociedade.
Os estudos fundamentam-se na dimensão social da religião (a
religião é uma instituição social) e na dimensão religiosa da sociedade (os
indivíduos que compõem a sociedade são seres religiosos e praticam rituais
revestidos de sacralidade).
WACH, (1990, p. 11, 205) diz que a sociologia da religião estuda a
inter-relação da religião com a sociedade, e as formas de interação que
ocorrem de uma com a outra, e dá como básica para a sociologia da
religião a hipótese de que “os impulsos, as idéias e as instituições
religiosas influenciam as formas sociais e, por sua vez, são por elas
influenciados, além de receberem o influxo da organização social e da
estratificação.
Já NOTTINGHAM, entende que “o sociólogo da religião ocupa-se
dela “como um aspecto do comportamento de grupo e estuda os papéis
que a religião tem desempenhado através dos tempos.”
São campos de pesquisa da sociologia da religião:
a) Influências gerais do grupo sobre a religião;
b) Funções dos rituais nas sociedades;
c) Tipologias de organizações religiosas e de respostas religiosas ao
mundo ou a ordem social;
d) Influências diretas ou indiretas dos sistemas ideais religiosos na
sociedade e seus componentes ou elementos (como classes, grupos de
nacionalidades, grupos étnicos) e da sociedade nos sistemas ideais;
e) Análise específica de números de seitas religiosas e movimentos tais
como mormonismo e testemunhas de Jeová;
f) Interação de entidades religiosas significativas em âmbito local ou de
comunidade;
g) Avaliações conscientes ocasionais, feitas por porta-vozes para grupos
religiosos mais importantes, das circunstâncias sociais nas quais os grupos se
encontram.
Esta relação está incompleta e seus itens aparecem por isso menos
especificamente sugeridos do que poderiam ser, mas o caráter geral dos
interesses da sociologia da religião aparece, assim, razoavelmente bem
indicados.
Considerando que religião diz respeito a todos os homens, devemos,
antes de mais nada, proceder a um auto-exame.
2) Religião
Ao longo de milhares de anos, a religião tem evidenciado um
importante papel na vivência dos seres humanos. Apesar da
universalidade que caracteriza o fenômeno religioso, de uma forma ou outra,
a religião marca presença em todas as sociedades humanas,
influenciando a forma como vemos e reagimos ao meio que nos rodeia.
Não existe uma definição de religião genericamente aceita, a sua
concepção varia naturalmente de sociedade para sociedade, cultura para
cultura.
Não obstante a isto, pode-se enumerar algumas das principais
características "comuns" ou "partilhadas" entre todas as religiões:
Tradicionalmente, as diferentes religiões evidenciam um sistema de
crenças no sobrenatural, envolvendo majoritariamente Deuses ou
divindades.
Implicam igualmente um conjunto de símbolos; sentimentos e
práticas religiosas.
Paralelamente, a religião apresenta-se como um fenômeno social e
não apenas individual. O referido atributo de fenômeno social
atribuído à religião perpetua-se através das cerimônias habituais, que
decorrem predominantemente em locais de culto indicados para tal:
igrejas, templos ou santuários.
Resumidamente, apresentam-se os principais indicadores comuns às
várias religiões, que contribuem para uma melhor compreensão do
fenômeno religioso:
- A tendência para a sacralização de determinados locais;
- A forte interação com o divino;
- A exposição de grandes narrativas que explicam, legitimam e
fundamentam o começo do mundo e sua existência.
3) Senso religioso
O homem tem como dado emergente em seu comportamento – o que,
como tendência, atinge toda a sua atividade – a interrogação sobre tudo o
que realiza: “Que sentido tem tudo?”
Como escreve o teólogo italiano Luigi Giussani: “O fator religioso
representa a natureza do nosso eu enquanto se exprime em certas perguntas:
“Qual é o significado último da existência? Por que existem a dor, a morte?
Por que, no fundo, vale a pena viver?” Ou, a partir de outro ponto de vista:
“De que e para que é feita a realidade?”
O senso religioso coloca-se dentro da realidade do nosso “eu” ao nível
dessas perguntas: coincide com aquele compromisso radical do nosso eu
com a vida, que se mostra nessas perguntas”. (Giussani, 2000, p.71).
O senso religioso surge em nossa consciência através de perguntas
nascidas no encontro com a filosofia, a arte e toda a realidade
circundante. Ele proporciona ao homem uma abertura na busca de uma
resposta totalizante.
Dessa forma, segundo Giussani, é que o senso religioso define o ‘eu’: “o
lugar da natureza onde é afirmado o significado do todo”. (Giussani,
op.cit., p.74).
O senso religioso é, pois, o ímpeto que move o homem rumo à
busca da exigência primordial da razão humana: a do significado.
4) Paradigmas
Paradigma (do grego Parádeigma) literalmente modelo, é a
representação de um padrão a ser seguido.
É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um
conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização
científica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma
referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas.
A palavra paradigma é geralmente utilizada no contexto de mudança
de paradigmas, ou seja, a mudança de um conjunto de idéias básicas
generalizadas e compartilhadas sobre a maneira de funcionar do mundo para
novas possibilidades de entendimento do real, mudando-se ou ampliando-se
o entendimento convencional do real. Esta palavra foi popularizada pelo físico
Thomas Kuhn em seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas, publicado
em 1962.
Os paradigmas funcionam como uma lente colorida através da qual
ela enxerga o mundo.
Para evitar que existam tantas lentes ou percepções diferentes de uma
mesma realidade quanto é o número de pessoas existentes sobre a terra é
que existem os paradigmas, que são lentes padronizadas através das quais
se olha para uma mesma realidade.
Paradigmas são os filtros de percepção que criam a nossa realidade
subjetiva. Apenas poderemos ver (entenda-se "perceber") o mundo de
outra forma se modificarmos nossos paradigmas.
Conjuntos de crenças ou verdades relacionadas entre si são
chamados de paradigmas. Podemos falar do paradigma espiritual, por
exemplo. Vírus e bactérias como causas de doenças é outro paradigma,
distinto da medicina psicossomática. A medicina oriental há milênios tem em
seu paradigma uma energia vital, chamada de prana ou chi (entre outros
nomes), que não está presente no paradigma ocidental, exceto em medicinas
e terapias alternativas.
Paradigmas e crenças podem subsistir por séculos. O Sol girou em
torno da Terra por 1.400 anos. A Física até o início do século tinha as leis de
Newton como um de seus principais paradigmas. Com a Teoria da
Relatividade, esse passou a ser um caso especial de outro paradigma. E
continua mudando; no livro Universo Elegante, Brian Greene diz por exemplo
que "A sugestão de que o nosso universo poderia ter mais de três dimensões
pode parecer supérflua, bizarra ou mística. Na realidade, contudo, ela é
concreta, e perfeitamente plausível".
Crenças e verdades dificilmente subsistem por si só; normalmente
elas estão agrupadas, sustentando umas às outras. Por exemplo,
acreditar em Jesus Cristo está vinculado a acreditar em coisas espirituais,
podendo estar associado também à crença na existência do diabo e de outros
mundos ou dimensões. Acreditar no diabo envolve também acreditar que
nossas escolhas podem ser influenciadas por fatores externos e ocultos.
Mudar um paradigma pode ser difícil, já que em geral está enraizado
nas profundezas do inconsciente e por vezes não sujeito a
questionamento ou atualização por feedback. Mesmo no meio científico
isto ocorre: o próprio Einstein, que revolucionou os paradigmas da Física, teve
dificuldades em aceitar a revolução seguinte, a da Mecânica Quântica. Max
Planck (citado por Stanislav Grof no livro Além do Cérebro) disse que "uma
nova verdade científica triunfa não porque convença seus oponentes fazendoos
ver a luz, mas porque eles eventualmente morrem, e uma nova geração
cresce familiarizando-se com ela".
Robert Dilts, no livro Crenças, conta que curou o câncer de sua mãe
trabalhando durante quatro dias mudando crenças limitantes e resolvendo
conflitos.
Lewis Munford observa que "Cada transformação do homem...
apóia-se numa nova base ideológica e metafísica (= visão de mundo); ou
melhor, sobre as comoções e intuições mais profundas, cuja expressão
racionalizada assume a forma de uma teoria ou visão de cosmos, homem e
natureza" (cit. in Harman, 1989).
Qual a importância das pressuposições de uma sociedade?
Cada sociedade existente ou que já existiu tinha por base - o que lhe
dá ou davam suas características próprias - alguns pressupostos
comuns, compartilhados a toda a sua população, ou à uma parcela
significativa dela, na forma de um conjunto de premissas básicas que
dão identidade à uma forma de ser no mundo.
Estas pressuposições básicas são formadoras do pensamento
coletivo e constituem um conjunto de referenciais teóricos (ainda que
tacitamente vigentes) e que estabelecem em linhas gerais quem somos, em
que tipo de universo estamos, e o que é importante ou não para nós (ou que
pensamos ser para nós).
Muitas destas pressuposições são visíveis na constituição de
instituições e costumes culturais (por exemplo, na divisão tripartite dos
poderes no Estado moderno, elaboração e criação feitas pelo Iluminismo),
padrões de pensamento e sistemas de valores vigentes na sociedade, e são
tão aceitas, como lugar comum, que são ensinadas de modo indireto pelo
contexto social em que se vive, ou/e tão assimiladas e introjetadas que
passam a ser encaradas (caso se pensam nelas), como o óbvio (por exemplo,
a competitividade das pessoas refletindo a das empresas que, por sua vez,
refletem a "natural" competitividade animal - que realmente tem bem pouco da
feroz competitividade refletida do homem,etc) e dificilmente são questionados.
Qual a diferença entre o homem comum e o cientista?
A diferença entre o homem comum e o cientista está em que este
último geralmente adota - e isto é ainda mais real na ciência moderna - um
conjunto de pressupostos que o fazem explicar os fenômenos de uma
maneira apropriada a certos critérios aceitos como sendo científicos, critérios
estes que em muitas ciências apresentam um aspecto reducionista, ou seja,
explicado a partir da redução de fenômenos complexos a certos elementos ou
acontecimentos elementares. É o cientificismo.
A sociologia, e seu método cartesiano, já obteve no meio científico
o amplo reconhecimento da academia como de extrema eficácia para se
atingir uma "verdadeira" compreensão da natureza, e, portanto, é
considerada por muitos cientistas como apta a substituir as
cristalizadas religiões dogmáticas na explicação da origem e
funcionamento do mundo.
A verdade científica x verdade religiosa
A possibilidade de descobrir todas as leis naturais do mundo, seguindo o
exemplo bem sucedido as leis do movimento de Newton, por meio de
procedimentos de experimentação, dedução e indução, por terem sido bem
sucedidos na biologia e na medicina (embora em parte), havia estimulado
uma euforia racionalista e acabando por adquirir "parte da sacralidade que
antes pertencia às explicações religiosas: a de descobrir e apontar aos
homens o caminho em direção à verdade.
A ciência já não parecia uma forma particular e especializada de saber,
mas a única capaz de explicar a vida, abolir e suplantar as crenças religiosas
e até mesmo as discussões éticas. Supunha-se que, utilizando-se
adequadamente os métodos de investigação, a verdade se descortinaria
diante dos cientistas - os novos 'magos' da civilização -, quaisquer que
fossem suas opiniões pessoais, seus valores éticos sobre o bem e o mal, o
certo e o errado” (CRISTINA COSTA, Sociologia, p. 41 Ed. Moderna, 1999).
Algumas considerações sobre os sistemas de crenças dos individuos
"O sistema total de crenças de uma pessoa consiste num conjunto
de crenças e expectativas - expressas ou não, implícitas e explícitas,
conscientes e inconscientes - que ela aceita como verdadeiras com
relação ao mundo em que vive.
"Esse sistema de crenças não precisa ter consistência lógica; na
verdade, provavelmente nunca a tenha. Pode ser dividido em
compartimentos contendo crenças logicamente contraditórias e não
contraditórias. Inconscientemente, a pessoa rechaça os sinais que possam
revelar tal contradição interior. Observem que essa decisão de não se tornar
conscientemente cônscio de algo é inconsciente. Nós optamos, como também
acreditamos inconscientemente (...)
A forma como percebemos a realidade é fortemente influenciada
por crenças, adquiridas do meio, de forma inconsciente. Os fenômenos
de recusa e de resistência na psicoterapia ilustram a intensidade com que
tendemos a não ver coisas que ameaçam imagens profundamente
enraizadas, conflitantes com crenças bastante conservadoras.
Pesquisas demonstram reiteradamente que nossas percepções e
“verificações” da realidade são influenciadas muito mais do que
geralmente se acredita, por crenças, atitudes e outros processos
mentais, sem o que, grande parte desses processos é inconsciente.
"Essa influência de crenças sobre a percepção se intensifica
quando um grande número de pessoas acredita na mesma coisa. Os
antropólogos culturais documentaram em detalhe de que modo pessoas
que crescem em culturas diferentes percebem com clareza realidades
diferentes". Willis Harman, 1994.
Os Grandes Paradigmas na história da humanidade: Misticismo
(mitologia), Animismo, politeísmo, democracia, monoteísmo, feudalismo,
Estadismo, capitalismo, socialismo, modernidade, iluminismo
Os Grandes Paradigmas na história do cristianismo: monoteismo,
dogmatismo, trindade, catolicismo, sacerdócio universal, missionarismo,
biblicismo, empirismo, pentecostalismo, neo-pentecostalismo.
5) Por uma análise sociológica: O Simbolismo Religioso
Independentemente do tipo de comunicação, os símbolos têm outras
modalidades de influência sobre a vida social, principalmente porque
servem para concretizar, tornar visuais e palpáveis realidades abstratas,
mentais ou morais, da sociedade.
A finalidade do simbolismo religioso
O simbolismo religioso tem como fim ligar o homem a uma ordem
supranatural ou sobrenatural. Mas pode sustentar-se que o simbolismo
religioso não deixa de ser profundamente social. O simbolismo religioso
alimenta-se do contexto social, que exprime realidades sociais, que tem
alcance e consequências sociais. Assim, serve para distinguir os fiéis dos
não-fiéis, o clero dos fiéis, os lugares sagrados dos lugares profanos, os
objetos puros dos impuros, etc. Configura desse modo a própria textura
da sociedade, para construir hierarquias. Seja pelo vestuário, por ritos,
sacramentos, sinais invisíveis, a religião é rica em símbolos que dividem
para melhor reunir (Rocher, 1989).
A vida religiosa e o simbolismo
A própria vida religiosa é quase, universalmente, uma prática social, em
que a solidariedade mística tem um papel central, detendo grande diversidade
de símbolos para se exteriorizar e desenvolver.
Por exemplo, a constituição de comunidades humanas
geograficamente identificáveis; as cerimônias que apelam à participação
dos assistentes, como as oferendas, os sacrifícios, comunhões físicas;
outras cerimônias como os ritos de iniciação, as cerimônias do
casamento, os ritos fúnebres, etc. Tudo isso caracteriza a vida religiosa
de um individuo em sua comunidade.
Se a religião é dotada de símbolos diversos, é porque faz referência
a um universo invisível, inacessível diretamente, devendo portanto
seguir a vida simbólica para manterem o homem em contato com esse
universo.
A sociedade e a sua complexa organização, não poderiam existir e
perpetuar-se, tal como a religião, sem o contributo multiforme do simbolismo,
tanto pela participação ou identificação que ele favorece como pela
comunicação de que é instrumento (Rocher, 1989).
Pode-se dizer, então, que os símbolos servem:
Para ligar os atores sociais entre si, por intermédio dos diversos
meios de comunicação que põem ao seu serviço;
servem igualmente para ligar os modelos aos valores, de que são a
expressão mais concreta e mais diretamente observável;
por último, os símbolos recriam incessantemente a participação e a
identificação das pessoas e dos grupos às coletividades e
estabelecem constantemente as solidariedades necessárias à vida
social.
Por intermédio dos símbolos, o universo ideal de valores passa
para a realidade, torna-se, simultaneamente, visibilidade e crença
social.
6) O método de investigação da sociologia
Para elaborar seus estudos, a Sociologia faz uso de métodos (conjunto
de regras úteis à investigação). Os métodos específicos das ciência sociais,
inicialmente, podem desarmonizar-se na confusão dos termos "método" e
"métodos".
O Método e os Métodos
Schopenhauer, citado por Madaleine Grawitz, diz que, "dessa forma, a
tarefa não é contemplar o que ninguém ainda contemplou, mas meditar, como
ninguém ainda meditou, sobre o que todo mundo tem diante dos olhos".
Definição um tanto abstrata à primeira vista. Ora, quando E. M. Lakatos cita
Calderón, em sua definição de método, também diz que o método "é um
conjunto de regras úteis para a integração, é um procedimento
cuidadosamente elaborado, visando provocar respostas na natureza e na
sociedade, e, paulatinamente, descobrir sua lógica e leis". "Cada ciência",
completa Lakatos, "possui um conjunto de métodos."
O que se constata, também de imediato, é que o "método" não é o
mesmo que os "métodos". O método, em si, apresenta-se como um tratado
de maior abrangência, em se tratando de abstração mais elevada, dos
fenômenos naturais e sociais. Com isso observa-se o método de abordagem,
que podemos analisar nas seguinte divisões: Método Indutivo, Dedutivo,
Hipotético-dedutivo e Dialético.
Método Histórico (promovido por Boas)
A sociedade, com suas formas de vida social, instituições e costumes
originados no passado. "O método histórico consiste em investigar
acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua
influência na sociedade de hoje."
Ex. Os patriarcas
A árvore genealógica
Os mitos, tradições e valores primeiros
Método Comparativo (empregado por Tylor)
Usado tanto para comparação de grupos no presente, no passado, ou
entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de
diferentes estágios de desenvolvimento.
Ex. A São Paulo de 1960 e a de hoje
Colonização portuguesa e espanhola na América Latina
Classes sociais na época colonial e atualmente
Método Monográfico (criado por Le Play)
Consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições,
instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter
generalizações.
Ex. SCHALKWIJK, Frans Leonard. Igreja e Estado no Brasil Holandês 1630-
1654. Ed. Vida Nova, S. Paulo, 2a ed. 1989
FERREIRA, Edijéce Martins. A Bíblia e o Bisturi. Missão Presbiteriana no
Brasil, Recife - PE, 1976
Método Estático (planejado por Quetelet)
Os processos estáticos permitem obter, de conjuntos complexos,
representações simples e constatar se essas verificações simplificadas têm
relações entre si. Assim, o método estático significa redução de fenômenos
sociológicos, políticos, econômicos etc. a termos quantitativos e a
manipulação estatística, que permite comprovar as relações dos fenômenos
entre si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado.
Ex. Verificar o número de filhos com a condição social.
O nível econômico entre os estudantes universitários.
Método Tipológico (aplicado por Max Weber)
Possui algumas semelhanças com o método comparativo. Entrementes,
detêm-se na observação dos tipos diferentes de cidades e governos (do
passado e do presente) para, a partir daí, criar o tipo ideal.
Ex. Estudo de todos os tipos de governo democrático, do presente e do
passado, para estabelecer as características típicas ideais da democracia.
Só podem ser objeto de estudo do método tipológico os fenômenos que
se prestam a uma divisão, a uma dicotomia de "tipo" e de "não-tipo". Os
próprios estudos efetuados por Weber demonstram essa característica:
- "cidade" __ "outros tipos de povoamento";
- "capitalismo" __ "outros tipos de estrutura sócio-econômica;
- "organização burocrática" __ "organização não-burocrática".
Método Funcionalista (utilizado por Malinowski)
É, a rigor, mais um método de interpretação do que de investigação.
Estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, isto é,
como um sistema organizado de atividades.
Ex. Análise das principais diferenciações de funções que devem existir num
pequeno grupo isolado, para que o mesmo sobreviva.
Averiguação da função dos usos e costumes no sentido de assegurar a
identidade cultural do grupo.
Método Estruturalista (desenvolvido por Lévi-Strauss)
O método parte da investigação de um fenômeno concreto, eleva-se, a
seguir, ao nível abstrato, por intermédio da constituição de um modelo que
represente o objeto de estudo, retornando por fim ao concreto, dessa vez
como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito
social. Dessa forma, o método caminha do concreto para o abstrato e viceversa,
dispondo, na segunda etapa, de um modelo para analisar a realidade
concreta dos diversos fenômenos.
Ex. Estudo das relações sociais (um casamento, por exemplo) e a posição
que estas determinam para os indivíduos e os grupos, com a finalidade de
construir um modelo que passa a retratar a estrutura social onde ocorre tais
relações.
Além dessa variedade de métodos, a Sociologia arma-se de técnicas
variadas. Vejamos:
1) Documental: livros, revistas, jornais...
2) Sociometria: relações interpessoais, liderança...
3) História de vida: dados completos sobre alguém.
4) Entrevista: encontro entre entrevistador e entrevistado.
4.1) Dirigida (quando segue um roteiro).
4.2) Não dirigida ou livre (quando leva o entrevistado a expor
suas próprias idéias).
5) Questionário: dados obtidos a partir de uma série de perguntas (sem
contato do entrevistado com o entrevistador).
6) Formulário: semelhante ao anterior; só que o investigador encarregase
de anotar as respostas do investigado às perguntas anteriormente
formuladas. Podem ser: a) sitemática; b) participante
7) Cartográfica: quando se usam mapas, cartas, desenhos, gráficos,
tabelas e outros, para tornar expressivos dados complexos.
7) Sociologia da Religião em Hume
David Hume ficou conhecido sobretudo pelas contribuições na filosofia.
Mas não menos dignas de destaque são as observações na análise da
religião. Pode falar-se de idéias pioneiras para a sociologia da religião, que
ficam patentes na obra de 1757: The Natural History of Religion.
Hume rejeita a ideia de uma evolução linear desde o politeísmo para o
monoteísmo como um sumário da evolução histórica dos últimos 2.000 anos.
Na verdade, Hume acredita que o que a história mostra é antes um
oscilar irracional entre politeísmo e monoteísmo. Chama-lhe um "flux and
reflux" (fluxo e refluxo, um oscilar) entre as duas opções.
Nas palavras de Hume: "a mente humana mostra uma tendência
maravilhosa para oscilar entre diferentes tipos de religião: eleva-se do
politeísmo para o monoteísmo para voltar a afundar-se na idolatria".
Como Gellner afirma, esta oscilação não é o resultado de qualquer
racionalidade, mas sim com os "mecanismos do medo, incerteza, da
superioridade e inferioridade".
Os povos que adoram vários deuses com poderes limitados podem
facilmente conceber um Deus com um poder mais extenso, ainda mais digno
de veneração do que os outros. "Neste processo, os homens chegam ao
estágio de um só Deus como ser infinito, a partir do qual nenhum progresso é
possível".
Esse Deus único, todo poderoso, é porém igualmente um Deus distante e
de difícil acesso para o comum dos mortais (sobretudo se estes são
analfabetos - e na Europa da Idade Média, a esmagadora maioria da
população era analfabeta). O contacto direto com as escrituras sagradas na
Idade Média permanecia um privilégio de uma casta limitada - o clero. A
maioria do povo comum, analfabeto, sente-se impossibilitado de aceder a
Deus por via "direta". Neste momento, torna-se visível um princípio
psicológico que caminha numa direção contrária.
Esse princípio psicológico é a idéia de que os homens vivem em
busca da proteção, do apoio. Torna-se necessária a figura de
intermediários perante o comum dos mortais e o Deus todo poderoso.
Uma função para os santos, relíquias,... "Estes semi-deuses e
intermediários, que são vistos pelos homens como parentes e lhes
parecem menos distantes, são objeto da adoração e assim, a idolatria
está de volta..."
Mas mais uma vez, o pêndulo tem de retornar. Como Gellner afirma, em
breve, "o Panteão torna a encher-se".
Hume: "À medida que estas diferentes formas de idolatria dia por
dia descem às formas cada vez mais baixas e ordinárias, acabam por se
auto-destruir e as horríveis formas de idolatria vão acabar por provocar
um retorno e um desejo de regresso ao monoteísmo... Por isso (entre os
judeus e os muçulmanos) é que há proibição de figuras humanas na
pintura e mesmo na escultura, porque eles receiam que a carne seja
fraca e que acabe por se deixar levar para a idolatria".
Hume mostra exemplos desta evolução: É a luta de Jeová contra os
Bealim de Canaã, da Reforma contra o Papado, e do Islão contra as
tendências pluralistas (ver sufismo).
8) A sociologia da Religião em Durkheim
Durkheim é um autor que estudou a religião em sociedades pequenas,
considerando a religião como uma “coisa social” (Ó Dea, 1969).
Para o autor, na questão religiosa há uma preocupação básica que é
a diferença entre sagrado e profano.
Durkheim é bem explícito ao afirmar que: “o sagrado e o profano
foram sempre e por toda a parte concebidos pelo espírito humano como
gêneros separados, como dois mundos entre os quais nada há em comum
(…) uma vez que a noção de sagrado é no pensamento dos homens, sempre
e por toda a parte separada da noção do profano (…) mas o aspecto
característico do fenômeno religioso é o fato de que ele pressupõe uma
divisão e bipartida do universo conhecido e conhecível em dois gêneros que
compreendem tudo o que existe, mas que se excluem radicalmente. As
coisas sagradas são aquelas que os interditos protegem e isolam; as coisas
profanas, aquelas às quais esses interditos se aplicam e que devem
permanecer à distancia das primeiras.” Ou seja, para Durkheim, há uma
natural superioridade do sagrado em relação ao profano (Durkheim, 1990).
É possível constatar que a participação na ordem sagrada, como o
caso dos rituais ou cerimônias, dão um prestígio social especial,
ilustrando uma das funções sociais da religião, que pode ser definida
como um sistema unificado de crenças e de práticas relativas às coisas
sagradas. Estas unificam o povo numa comunidade moral (igreja), um
compartilhar coletivo de crenças, que por sua vez, é essencial ao
desenvolvimento da religião. Dessa forma, o ritual pode ser considerado
um mecanismo para reforçar a integração social.
Durkheim conclui que a função substancial da religião é a criação, o
reforço e manutenção da solidariedade social. Enquanto persistir a
sociedade, persistirá a religião (Timasheff. 1971).
9) Weber e a Religião
Weber concentrou a sua atenção nas religiões ditas mundiais,
aquelas que atraíram um grande número de crentes e que afetaram, em
grande medida, o curso global da história. Teve em atenção a relação entre
a religião e as mudanças sociais, acreditava que os movimentos inspirados
na religião podiam produzir grandes transformações sociais, dando o exemplo
do Protestantismo.
O que Weber mostra em relação a religião?
Para Weber, as concepções religiosas eram cruciais e originárias das
sociedades humanas, pois o homem, como tal, sempre esteve à procura
de sentido e de significado para a sua existência; não simplesmente de
ajustamento emocional, mas de segurança cognitiva ao enfrentar
problemas de sofrimento e morte (Ó Dea, 1969). Procura-se na religião
signos de transcendência e de esperança.
Assim, Weber estava preocupado em destacar a integração racional
dos sistemas religiosos mundiais e não apenas o calvinista (objeto
especial dos seus estudos), como resposta aos problemas básicos da
condição humana: “contingência, impotência e escassez”.
Weber mostra que as religiões, ao criar respostas a tais problemas –
respostas que se tornam parte da cultura estabelecida e das estruturas
institucionais de uma sociedade –, influem de maneira mais íntima nas
atitudes práticas dos homens com relação às várias atividades da vida
diária (Ó Dea, 1969).
Com isto, Weber considerava que, ao problema humano do sentido e
significação existencial, a religião, de maneira eficaz, oferecia uma resposta
final. Por conseguinte, como já afirmamos, ela torna-se, pela forma
institucional que assume, um fator causal na determinação da ação.
No caso específico do protestantismo, a sua força é vista como
indispensável (mas não a única) para o surgimento do fenômeno da
modernidade ocidental, com seus valores inerentes de individualismo,
liberdade, democracia, progresso, entre outros.
Portanto, segundo a teoria de Weber, religião é uma das fontes
causadoras de mudanças sociais. Para ele, o processo de racionalização
religiosa ou de “desencantamento do mundo” culminou no calvinismo do
século XVII e em muitos outros movimentos, chamados por ele de “seitas”.
Desse momento em diante, procurou-se assegurar a salvação (temporal e
eterna) não por meio de ritos, ou por uma fuga mística do mundo ou por uma
ascética transcendente, mas acreditando-se no mundo pelo trabalho, pela
profissão, pela inserção.
Portanto, segundo Weber, o capitalismo é definido pela existência de
empresas cujo objetivo é produzir o maior lucro possível e cujo meio é a
organização racional do trabalho e da produção. É a união do desejo de lucro
e da disciplina racional que constitui historicamente o traço singular do
capitalismo ocidental. Weber quis demonstrar que a conduta dos homens nas
diversas sociedades só pode ser compreendida dentro do quadro da
concepção geral que esses homens têm da existência. Os dogmas religiosos
e sua interpretação são partes integrantes dessa visão do mundo; é preciso
entendê-los para compreender a conduta dos indivíduos e dos grupos,
nomeadamente o seu comportamento econômico.
Por outro lado, Weber quis provar que as concepções religiosas são,
efetivamente, um determinante da conduta econômica e, em
consequência, uma das causas das transformações econômicas das
sociedades (Aron, 1999). Dessa forma, o capitalismo estaria motivado e
animado por uma visão de mundo específica de um tipo de
protestantismo que na sua ação social favoreceu a formação do regime
capitalista.
10) O cristão em uma sociedade não-cristã
Vivemos em uma sociedade de indivíduos alienados. Como cristãos,
temos o dever de atuar como participantes da história de transformação deste
sistema pervertido; não podemos nos acomodar a margem histórica.
Devemos ser atuantes, participantes (militantes) do projeto de Deus para este
mundo. Um projeto de invocação, arrebatamento e construção. Esse é o
desafio que o cristão, comprometido em "trazer o reino de Deus" (Mt 6.10),
tem à sua frente, além de um piedoso exercício de espiritualidade integral.
Observemos três textos do Gênesis: Sete também teve um filho, a quem
deu o nome de Enos. Este foi o primeiro a invocar o nome de Javé. (4.26),
Enoque andou com Deus e desapareceu, porque Deus o arrebatou. (5.24).
Então Deus disse a Noé: 'Para mim chegou o fim de todos os homens, porque
a terra está cheia de violência por causa deles. Vou destruí-los junto com a
terra. Faça para você uma arca de madeira resinosa... (6.13-14)
Não pretendemos fazer uma exposição biográfica (o que nos levaria à
utilização do Método Monográfico, de Le Play). Desses três personagens
ilustres do relato histórico, pretendemos apresentar três mensagens que
ecoam na História Sagrada. Pretendemos mesmo é profetizar três desafios,
requisitos para vivenciar, individual e coletivamente, uma espiritualidade
integral, ou seja, uma vida de comunhão com Deus e com os homens, que
integre a oração, o êxtase e o trabalho; que abranja a horizontalidade e a
verticalidade do indivíduo social; que vá ter com Deus, mas que assista aos
homens.
Em resumo, podemos simplificar a significação desses três atos
litúrgicos e político-econômico-social, dizendo:
A invocação, significa chamar Deus para perto de nós.
O arrebatamento, significa ser levado ou absorvido (absorto) por
Deus.
A construção, significa trabalhar na contramão do caos social.
Que é invocação? A invocação é um chamado veemente, um apelo que
implora, uma súplica, uma prece... De modo que, para ouvirmos as
mensagens que evocam da invocação, é preciso, pelo menos, três
posturas de escuta: saber quem está invocando; onde o suplicante está
invocando; quem o suplicante está invocando.
Quem invoca? O Texto Sagrado parece sugerir que, depois da morte de
Abel, ninguém invocava mais o Senhor. Até o diálogo entre Caim e Deus é
iniciado pelo próprio Deus: "Caim: onde está teu irmão?" (Gn 4.8). Os homens
casavam-se, trabalhavam, desenvolviam seus talentos sem invocar Deus;
viviam - semelhante aos dias de hoje - um ateísmo prático. Foi Enos quem,
depois desse período de silêncio (escuridão) espiritual, primeiramente invocou
a Deus. Diz o Texto Sagrado que "este foi o primeiro a invocar o nome de
Javé" (Gn 4.26). O nome de Enos significa "fraco", "debilitado". Isto nos
sugere que a invocação está para os fracos, para aqueles que pedem socorro,
que suplicam auxílio; pois sabem que são impotentes. A invocação não está
para os "fortes", ou pelo menos para os que se acham "fortes", pois vivem
como se não dependessem de Deus (e dizem que Deus é apenas uma
"muleta" aos fracos), são auto-suficientes. É o pecado originário da
insubordinação.
Onde Enos invoca o nome de Javé? Foi na cidade de Caim que Enos
invocou o nome do Senhor. Foi em um ambiente ateisante que Enos invocou
a Javé; num local que, pelo que o Texto indica, ninguém clamava a Deus.
Geralmente, invocamos ao Senhor num ambiente religioso e num local
"propício" para invocar a Deus. O que Enos ensina é que Deus precisa ser
invocado não em "um", mas "no" ambiente que precisa de Deus. O ambiente
secularizado e caótico.
A cidade, além de amplamente secularizada, era uma fábrica de ateísmo
e, também, uma habitação social edificada sob uma maldição; pois o seu
construtor, Caim, carregava uma maldição consigo. Em Gênesis 4.11-12,
lemos: "E agora maldito és tu desde a terra que abriu a boca para receber de
tua mão o sangue do teu irmão". Era uma cidade construída sob os
fundamentos da auto-suficiência (Deus não é convidado para participar da sua
edificação); da violência (Lameque mata um jovem por ter pisado no seu pé:
Gn 4.23); do machismo (duas mulheres para ser subserviente a Lameque);
do homicídio (Caim mata Abel); da hostilidade e impunidade (Lameque havia
matado dois e ainda estava impune); da religião ritualística ("Caim trouxe do
fruto da terra uma oferta ao Senhor": Gn 4.3); da rivalidade e competição (a
disputa de Caim com seu irmão); do progresso tecnológico e cultural (não
eram nômades, mas pastores - Revolução Pastoril; trabalhavam com o ferro
fundido; Revolução Metalúrgica; os instrumentos musicais foram criados...).
O caos social e humano era maquilado com os avanços tecnológicos e
com as atividades culturais. Quando descrevemos a comunidade de Caim,
parece até que estamos descrevendo a nossa sociedade capitalista pósmoderna;
as nuanças são quase imperceptíveis. Invocar a Deus na sociedade
de Caim era desejar subvertê-la, pois isto significa aproximar a realidade de
Deus para que ela substituísse a realidade humana - o mesmo sentido se
aplica hoje à nossa sociedade e ao nosso desejo. Neste sentido,
invocar
significa orar que "... venha o teu Reino, seja feita a tua vontade". Assim,
invocar significa gritar a plenos pulmões: "Maranata!" ("Ora vem, Senhor
Jesus!"- E isto requer um preço alto da nossa parte). Invocar também significa
aproximar o projeto de Deus, o seu senhorio sobre tudo e todos.
"Jesus Cristo é o Senhor!" Essa declaração perturbou, abalou e
contrariou a César, no Império Romano; contrariou o papado, no império
salvacionista; e deve contrariar o "senhor" Mercado Global, no Império
Capitalista Pós-moderno. Desta forma, invocar a Deus deixa de ser
meramente uma expressão religiosa, passa a ser uma profecia, um vaticínio
contra uma sociedade ateisante. Logo, significa "não obedecer aos homens,
mas a Deus" (At 5.1-40). Significa trazer o Evangelho para uma realidade
supra-evangélica. Individualismo-Comunitarismo; Consumismo-Partilha;
Egoísmo-Fraternidade; Narcisismo-Elogio de outras belezas; Hedonismo-
Serviço; Violência-Paz.
11) A lei mosaica e os profetas
A LEI MOSAICA (apenas no decálogo) está registrada nos livros de Êx
(20.3-17), Dt (5.7-21) e em passagens do Novo Testamento; como em Mt
5.17-48; 15.5,19; 19.8-9; 22.34-40; 23.1; Lc 18.18-30 etc.
Os processos restritivos da lei não tinham apenas fins metafísicos,
mas sociais.
a) O Sabat (Êx 20.8-11)
b) Educação familiar (v. 12 comp. com Dt 5.16; Mt 15.4; Mc 7.10; Lc 18.20;
Ef 6.2)
c) Proibição ao homicídio ("assassinar", v. 13 comp. com Dt 5.17; Mt 5.21;
Rm 13.9)
d) Fidelidade conjugal (v. 15 comp. com Dt 5.18; Mt 5.27; Lc 18.20; Rm
13.9; Tg 2.11; havia uma lei severa para os que cometiam o adultério:
Lv 2.10-12, comentar com Jo 8.1-11)
e) Proibição ao roubo (v.15 comp.c/ Dt 5.19; Lv 19.11-13; Is 61.8; Mt
19.18; Ef 4.28; comentar Êx 22.1-15 com Lc 19.8-10)
f) Fidelidade ao próximo (v. 16 comentar com Dt 17.6).
O Didaché (catecismo dos primeiros cristãos), no final do capítulo
IV, diz: "Deteste a hipocrisia e tudo o que não seja agradável ao Senhor. Não
viole os mandamentos do Senhor. Guarde o que você recebeu, sem nada
acrescentar ou tirar" (IV.12-13) e, já no cap. V, ensinado o caminho da vida
pelo caminho da morte, diz: “O caminho da morte é este: Em primeiro lugar, é
mau e cheio de maldições: homicídios, adultérios, paixões, fornicações,
roubos, idolatrias, práticas mágicas, feitiçarias, rapinas, falsos testemunhos,
hipocrisias, duplicidade de coração, fraude, orgulho, maldade, arrogância,
avareza, conversa obscena, ciúme, insolência, altivez, ostentação e ausência
de temor de Deus. Por esse caminho andam os perseguidores dos bons, os
inimigos da verdade, os amantes da mentira, os que ignoram a recompensa
da justiça... (V.1-2a).”
Os primeiros cristãos procuravam observar a lei mediante a
dependência da graça. Vale lembrar que a lei não se resume aos Dez
Mandamentos, mas está contida neles. Os pormenores estão espalhados por
todo o Pentateuco. Os fariseus, escribas e doutores da lei, com o passar do
tempo, a tornaram bem maior - o que é veementemente criticado pelo Senhor
Jesus (veremos isto mais adiante). A lei, portanto, tem três aspectos:
Restritivo (por regras, Rm 7.7), Punitivo (aplicação da justa justiça, Rm 7.8-
14; 6.23) e Demonstrativo (evidência à graça, Rm 5.20)
OS PROFETAS
Antes de tudo procuremos uma primeira compreensão global do
fenômeno profético do A.T. onde Abraão já é apresentado como profeta (Gn
20.7). A tradição deuteronômica depois exaltou Moisés como o maior profeta
de Israel (Dt 34.10), como porta-voz de Deus, intérprete da vontade divina,
mediador entre Deus e o povo, guia carismático excepcional do povo de
Israel.
De tal modo se fez Moisés o paradigma teológico do verdadeiro
profeta, fosse o que fosse que tenha sido do ponto de vista meramente
"histórico" da possibilidade de realizar o que fez: quem a ele se adapta é
autêntico profeta. A função e a missão dos profetas "canônicos" são, portanto,
pensadas sobre o modelo mosaico elaborado pela teologia deuteronômica.
Por volta do fim do séc. II a.C., o tradutor grego de Ben Sirac quer sugerir
continuidade entre Moisés e os outros profetas e escreve que Josué foi
"sucessor de Moisés no ofício profético" (Eclesiástico 46.1) (mas o hebraico
usa "servo de Moisés"). Aqui nasce a tradição judaica que visualiza a série
dos profetas como a história da sucessão profética de Moisés.
Porém foi, antes ainda, a teologia deuteronômica que traçou o modelo
mosaico da figura ideal do profeta. Na realidade, do ponto de vista histórico,
não se pode assumir como critério de pesquisa a "definição" de profeta
proposta pela tradição deuteronômica, que tenta reconduzir sistematicamente
qualquer figura profética a ser imagem de Moisés.
O profetismo bíblico não é fenômeno simples e homogêneo, mas
apresenta grande variedade de formas, de pessoas, de mensagens, de estilo,
de sensibilidade e cultura. Cada profeta traz consigo na sua atividade toda
sua personalidade. Cada época tem problemas, exigências, mentalidades
diferentes e cada profeta é homem de seu tempo, com certa cultura, ou
educação religiosa. Em suma, o fenômeno profético é comparável a grande
mosaico constituído de muitas pedras de cores e desenhos, forma e
colocação diferentes!
Os nomes mais comumente usados em hebraico para designar os
profetas são: Nabî, hozeh, ro'eh. Três termos que podemos considerar, a
grosso modo, sinônimos.