PROFETA OSEIAS
29/10/2013 12:35
LIVRO de Oséias
Esboço do Livro
Título (1.1)
Capítulo 1
I. O Casamento de Oséias Ilustra a Infidelidade de Israel, e a Rejeição e
Restauração da Nação (1.2—3.5)
A. O Casamento com Gomer (1.2)
B. O Nascimento dos Três Filhos (1.3-9)
C. Profecia da Restauração (1.10—2.1)
D. Gômer Como Símbolo de Israel (2.2-23)
1. O Adultério de Israel (2.2-5)
2. O Juízo Divino (2.6-13)
3. Deus Promete a Restauração de Israel (2.14-23)
E. A Redenção de Gomer (3.1-5)
II. A Mensagem de Oséias Descreve a Infidelidade, Rejeição e Restauração de
Israel (4.1—14.9)
A. O Adultério Espiritual de Israel (4.1-19)
B. O Juízo Divino Sobre Israel (5.1-14)
C. O Arrependimento Insincero de Israel (5.15—6.3)
D. O Registro dos Pecados de Israel (6.4—8.6)
1. Violação do Concerto (6.4-10)
2. Recusa em Confiar em Deus, e Obedecê-lo (6.11—7.16)
3. Servir a Falsos Deuses (8.1-6)
E. A Predição do Juízo de Israel (8.7—10.15)
1. Será Devorada pelas Nações (8.7-14)
2. A Prosperidade Evaporará (9.1-9)
3. A Madre se Tornará Estéril (9.10-17)
4. A Nação Será Destruída (10.1-15)
F. O Amor Persistente de Deus por Israel (11.1-11)
G. Repetição dos Pecados de Israel (11.12—12.14)
H. O Cuidado Passado de Deus e Sua Ira Presente (13.1-16)
1. A Idolatria de Israel (13.1-3)
2. O Cuidado Divino no Êxodo (13.4-6)
3. O Plano Divino em Destruir Israel (13.7-13)
4. O Plano Divino para a Restauração Final de Israel (13.14)
5. Insistência na Destruição Iminente de Israel (13.15,16)
I. Deus Promete Restaurar Israel (14.1-9)
1. A Chamada ao Arrependimento (14.1-3)
2. A Promessa de Bênçãos Abundantes (14.4-9)
1.1. Autor
Oséias, cujo livro se encontra no início do rolo dos doze profetas, marca um
novo estágio na profecia hebraica, pois ele é o primeiro ou um dos primeiros
profetas a pôr em forma escrita as suas profecias. E a profecia escrita não
poderia desejar para seu início um livro mais nobre.
Parece que o profeta era nativo do reino do norte. De qualquer modo, parece
que ele era bem versado com sua geografia e os detalhes de sua vida política,
religiosa e social. A parte principal e mais volumosa do livro é notável por seu
interesse no reino de Israel; as referências à nação irmã do sul são escassas.
Seu ministério como profeta foi prolongado; e sobre isso, a lista de reis que
aparece no começo do livro é evidência suficiente. Por qual razão o profeta deu
início à sua lista dando primeiramente os nomes dos reis de Judá, é algo difícil
de dizer. Talvez ele assim tenha feito a fim de demonstrar seu respeito à linha
legítima e davídica de reis, que governavam em Jerusalém (cf. 8.4). Com toda
a probabilidade seu ministério principal se estendeu desde os últimos dias do
reinado de Jeroboão II (782-741 a.C.) até à queda de Samaria (722 a.C.).
1.2. Conteúdo
O conteúdo do livro serve de espelho para as condições políticas, sociais e
religiosas que prevaleciam em Israel nos dias do profeta. As últimas décadas
da vida do reino do norte foram marcadas por uma frenética e insensata
alteração na orientação -agora cortejando o favor da Assíria, em seguida
tentando subornar o Egito. Em lugar de depositarem sua confiança em seu
Deus, os líderes da nação tentaram salvar o país por meio de esquemas
políticos que, pela própria natureza das coisas, estavam destinados a conduzir
ao desastre.
Os líderes religiosos do povo mostraram ser igualmente indignos. A forma de
religião que prevalecia nos dias de Oséias era um amálgama de adoração a
Jeová com a religião idólatra de Canaã. Nessa mistura, de Jeová era retido
apenas o nome; o ritual era tirado inteiramente das práticas corruptas da
adoração a Baal. Essa adoração exercia um efeito corruptor sobre o povo, visto
que estava intimamente ligado a atos de grosseira imoralidade. A situação se
agravava ainda mais pelos sacerdotes, cuja única preocupação era promover
seus próprios interesses materiais, o que não hesitavam em fazer encorajando
o povo a permitir-se cair em seus pecados, assim aumentando as rendas dos
sacerdotes mediante as ofertas pelo pecado.
Sob tais condições, não é de estranhar que os padrões morais, e religiosos do
povo estivessem tão baixos. Um quadro vívido, embora patético, sobre esse
estado de coisas, é dado na parábola transmitida pela tragédia da vida em
família de Oséias. O profeta se casara com uma Jovem que, com a passagem
do tempo, mostrou-se infiel. Os nomes que o profeta deu aos filhos de sua
esposa são sinais da agonia crescentemente aguda pela qual ele passava. A
despeito de toda a sua perversidade, entretanto, e embora seu pecado a
tivesse levado a ser a concubina-escrava de outro homem, o profeta
a reclamou como sua legítima esposa, e sua atitude para com ela, depois
disso, é um belo equilíbrio de amorosa ternura e severo julgamento. Tal é o
conteúdo de seu livro. Passagens de ternura sem paralelo e de duro
julgamento estão mescladas mutuamente a fim de demonstrar os sentimentos
de Deus para com Seu povo em desobediência. O tema em redor do qual gira
a mensagem inteira da profecia é a queixa de Deus de que Seu povo é falto de
conhecimento; e por esse termo devemos entender não simplesmente algum
conhecimento teórico, mas um contato íntimo e caloroso do coração do povo
com o amoroso coração de Deus.
1.3. A teologia de Oséias
Oséias concentra sua atenção na relação de Deus com Israel. Enquanto Amós está
preocupado com a soberania divina com o interesse de Jeová por outras nações, a
abordagem de Oséias é uma preocupação exclusiva com a relação de Israel com
Deus pertinente ao concerto. "A nação abandonou seu marido Yahweh, e
desempenhou o papel de meretriz quando colocou sua confiança nos baalins. [...] O
pecado não é definido de forma legalista; [...] para ele, a essência do pecado de
Israel é confiar em qualquer ser ou coisa que exclua Deus na busca de direção e
sustento de vida". (DENTON, 1956,
p. 1.119). Por isso, o profeta censura severamente toda forma de idolatria.
A interpretação que Oséias faz da história de Israel prende-se em torno da
idéia do amor divino e do conhecimento de Deus. Por trás da figura da
paternidade e do casamento estão duas palavras hebraicas usadas por Oséias:
'ahab e chesed. A primeira é o equivalente hebraico do termo amor, usado para
referir-se ao amor humano, quer puro ou impuro. A segunda (chesed) é a
palavra traduzida em 2.19 por "benignidade" (RC; ECA; ARA), "amor" (BV;
NTLH; NVI) e "amor firme" (RSV). Também significa "amor de concerto",
"amor-concerto", ou seja, o amor ligado ao concerto. Quando usada em relação
a Deus é o equivalente hebraico de "fidelidade" e quando usada em relação ao
homem desdobra-se no sentido de "devoção, religiosidade, lealdade". A
palavra 'ahab é considerada a mais restrita das duas, ao passo que chesed é a
mais nobre. Entretanto, há ocasiões em que 'ahab tem seus termos de elevada
nobreza e dignidade. A palavra 'ahab é empregada para denotar o "amoreleição"
de Deus e forma a base do concerto. Indica a ação redentora do
Senhor na história e na escolha de Israel como seu povo.
Havia duas questões que a lei não podia responder acerca de si mesma. A
primeira dizia respeito à razão para seu próprio estabelecimento. A única
resposta achava-se no amor ('ahab) de Deus. O "amor-eleição" de Jeová por
Israel era a base e a causa única da existência do concerto entre Deus e
Israel. De fato, se não fosse pelo "amor-eleição" de Jeová nunca teria havido
concerto e, por conseguinte, Israel. Também de acordo com o concerto, era a
contínua obediência de Israel a Deus que tornava possível sua existência.
Mas, e se Israel fosse desobediente? A lei não tinha resposta! Só o amor
fiel de Deus poderia oferecer uma solução. Isto nos proporciona a segunda
síntese entre a lei e o amor no livro de Oséias. Esta vinculação está
ilustrada graficamente pela relação dele com sua esposa adúltera. O amor
de Deus atinge o ápice da expressão quando Jeová brada: "Como te
deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel?" (11.8). Oséias usa
constantemente a palavra chesed (amor) para denotar a atitude de Jeová
pertinente ao concerto. Portanto, 'ahab é a causa do concerto e chesed é o
meio de sua continuação. Assim, chesed seria a atitude expressa para com
o concerto da parte de Deus e de Israel. (ADAMSON, 1956, p. 764).
Na progressão da idéia de amor em Oséias há três pontos importantes a
destacar. Primeiro, o amor é a base do concerto. Segundo, ele é a resposta ao
concerto quebrado e à existência continuada de Israel. Terceiro, a "firmeza" ou
a "fidelidade" é o elemento central no amor. Portanto, a base do concerto é o
amor e não a lei. Mas a santidade de Deus ainda exige que a lei -a essência do
seu amor e concerto -seja guardada e que o transgressor seja excluído da
comunhão divina.
Mesmo que haja o amor (chesed) de Deus por Israel, tem de haver um chesed
ao Senhor proveniente de Israel. É uma relação recíproca. Deus inicia esse
amor e Israel, agradecidamente, retribui. Este é o sentido no qual o amor
(‘ahab) é usado de uma forma inferior para uma superior, o sentido de amor
humilde e obediente. O amor do homem por Deus no Antigo Testamento está
baseado no amor do Senhor pelo homem.
A relação não está elaborada de forma sistematizada, mas ela existe. Se Israel
precisava ser grato a Deus por sua eleição, muito mais agradecido precisava
ser pelo amor firme e pela fidelidade do Senhor depois de ter quebrado o
concerto com Ele.
Assim, vemos que o pano de fundo do concerto entre Jeová e Israel é a graça,
não a lei. Poderíamos dizer que a lei, como expressão da santidade de Deus,
forneceu a essência do seu amor (chesed) e, portanto, do concerto com seu
povo.
O problema do chesed de Deus e do concerto quebrado concentra-se na
tensão entre a santidade e o amor divinos. Qual é o equilíbrio entre a
misericórdia e a justiça? O livro de Oséias é excelente exemplo desta tensão
entre a mensagem de destruição proclamada por Deus e sua misericórdia.
Jeová foi constantemente fiel na sua parte do concerto, e é este elemento do
amor de Deus que, no final das contas, ocasiona a solução da tensão entre seu
amor e sua santidade. Deus mesmo ocasionaria esse arrependimento
requerido por ele (12.6) e forneceria a expiação que sua santidade e justiça
exigiam (Is 53). É a idéia de amor (chesed) na relação de concerto, ainda que
quebrado, que se desdobra no propósito da graça no Novo Testamento. É
também este elemento que proporciona o pano de fundo para a profecia do
novo concerto em Jeremias e o fundamento da esperança messiânica.
O segundo elemento no livro de Oséias é o conhecimento de Deus. Esta
característica surge da "comunhão" que é o resultado do "amor de concerto".
Esta comunhão no pensamento hebraico torna-se o método de conhecer Deus.
Wriezen comenta: "Este conhecimento de Deus é essencialmente uma
comunhão com Deus, e é também fé religiosa. É algo completamente diferente
de conhecimento intelectual: trata-se de conhecimento do coração e demanda
o amor do homem (Dt 6); sua demanda vital é andar humildemente nos
caminhos do Senhor (Mq 6.8); é o reconhecimento de Deus como Deus, a
rendição total a Deus como Senhor". (WRIEZEN, 1961, p. 105).
Com isto em mente, podemos entender por que era tão sério o clamor de
Oséias de que não havia "conhecimento" de Deus em Israel. Indica que não
havia fidelidade a Deus, amor a Ele e comunhão com Ele. O profeta não se
refere a um conhecimento intelectual, mas a uma relação espiritual. Wriezen
demonstra esta dedução quando escreve que, no Antigo Testamento, "o
conhecimento de Deus não implica numa teoria sobre a natureza de Deus; não
é ontológica, mas existencial: é uma vida na verdadeira relação com Deus".
(WRIEZEN, 1961, p. 105).
A análise descrita acima destaca dois fatores sobre o "conhecimento" no Antigo
Testamento. Primeiramente, é espiritual e relacional e não intelectual. Em
segundo lugar, tem implicações éticas. Snaith ilustra este segundo ponto
quando, ao comentar sobre 4.2, diz que "o verdadeiro chesed (amor) de Israel
por Jeová implica [...] fundamentalmente em conhecimento de Deus e,
resultante disso, lealdade na adoração verdadeira e apropriada, junto com o
procedimento adequado a respeito das virtudes humanitárias". (SNAITH, 1946,
p. 156). O fato que conhecimento é essencialmente comunhão, e que isto está
baseado necessariamente na relação de concerto com Jeová, acarreta
implicações éticas. Pois se o amor é o elemento básico no concerto, não pode
estar separado da lei que fornece sua essência. Portanto, o conhecimento de
Deus proporciona a transição entre a religião e a ética; assim se justifica o
clamor profético pela justiça social e a insistência que a verdadeira religião é
muito mais que a observância ritual.
É evidente que a "ética" de Israel era profundamente pessoal e estava baseada
na idéia-concerto de chesed (amor), o qual está muito bem
apresentado nos escritos de Oséias. Visto que seu tema principal é as relações
entre pessoas e seu alvo é a união ou conhecimento no mais pleno sentido da
palavra hebraica, chesed é o meio de vencer o afastamento e a desavença.
Isto ocorre porque a mente hebraica via o homem, em si, como algo
incompleto, alguma coisa menos que ser humano, quando fica separado da
relação de concerto. Torna-se verdadeiramente autêntico apenas quando
descobre sua relação com Deus e com o homem.
A reconciliação ocorre pelo amor de Jeová ao homem e pela resposta humilde
do ser humano em amor. É pelo amor que o homem percebe a verdadeira
essência do seu ser.
Oséias com sua teologia de amor prepara o pano de fundo para a idéia do
Novo Testamento de que a existência só é percebida num relacionamento com
Deus, e a vida mais completa é percebida na koinonia (comunhão de amor). O
ápice é atingido nos escritos de João e, sobretudo, em 1Jo 4.16,17: "Deus é
amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele.
Nisto é em nós aperfeiçoado o amor" (ARA).
Nos dias de Oséias, Israel parecia incapaz de arrepender-se e a santidade do
Senhor não podia tolerar o pecado. De alguma forma, o amor firme de Deus
acharia um meio de trazer as pessoas de volta para Ele. Embora o Senhor
tivesse pronunciado certa destruição sobre o pecador, prometeu que nunca
abandonaria Israel. O povo israelita tem de ser julgado, mas Deus, em seu
amor (chesed), não pode destruí-Io. Esta tensão criativa alcança sua maior
expressão em 11.8,9 (ARC), onde, depois de predizer o exílio na Assíria, Jeová
brada:
Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como
Admá? Por-te-ia como Zeboim? Está mudado em mim o meu coração, todos os
meus pesares juntamente estão acesos. Não executarei o furor da minha ira;
não voltarei para destruir Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo
no meio de ti; eu não entrarei na cidade.
1.4. Contribuições singulares
1.4.1. O livro enfatiza o amor matrimonial de Deus
Oséias revela uma das imagens mais profundas do amor divino encontrado no
Antigo Testamento. Embora forçado a divorciar-se de Israel e julgá-Io devido à
sua prostituição (2.2-5), o Senhor ainda confirmou o seu amor pela nação e sua
intenção de cortejá-Ia e trazê-Ia de volta em justiça (2.14-16,20). Ele comparou
o relacionamento da sua aliança com Israel a uma união conjugal profunda e
íntima.
1.4.2. O poder secreto do amor Divino (14.9)
Este versículo final é um desafio aos mais sábios e perspicazes para que
esquadrinhem o singular poder do amor de Deus. Embora o amor divino por
Israel parecesse fútil e infrutífero no tempo de Oséias, assim não aconteceria
em longo prazo, pois "os caminhos do Senhor são retos" (14.9). Seu amor por
Israel continuaria apesar da obstinação do povo e, no final, se justificaria numa
colheita de justiça. Deus não faz maus investimentos (2.19).
1.4.3. O Profeta e seu casamento falido (1.2; 3.1-3)
A ordem que Oséias, o profeta, recebeu do Senhor para casar-se com uma
prostituta é chocante e cria um dilema (1.2). De conformidade com a Lei de
Moisés, Gômer deveria ser apedrejada como prostituta (Lv 20.10; Dt 22.2124).
Não se sabe se ela já era prostituta ao casar-se ou tornou-se depois. Qualquer
que seja o caso, os tempos de Oséias não eram normais, pois a terra estava
cheia de prostituição e os sacerdotes tinham-se tornado um bando de
assassinos (4.12-14; 6.9). O adultério de Gômer, entretanto, alcançara
tamanho grau de baixeza que ela se tornara uma prostituta escrava (3.1-2).
Todavia, a atitude de Oséias ao reivindicá-Ia e comprá-Ia tirando-a do mercado
da prostituição não violou a Lei, pois foi ordenada por Deus e realizada sob a
dispensação especial da graça divina (semelhante à graça demonstrada a Davi
quando este caiu em adultério). O Senhor suspendeu o julgamento sobre Israel
a fim de revelar aos judeus sua magnânima graça. Eles mereciam ser
totalmente destruídos por prostituírem-se, deixando o Senhor pelos deuses
pagãos (3.1-4).
A analogia divina com o casamento humano aqui apresentada foi planejada e
expressa divinamente, e não deve ser posta de lado. A grande lição que se tira
desse fato é que aquela infidelidade sexual é devastadora para um casamento,
provoca o julgamento de Deus e exige arrependimento verdadeiro, bem como
renovação genuína dos votos matrimoniais para que haja restauração. Apesar
de a Lei proibir que a mulher fosse aceita pelo seu primeiro marido, após haver
sido repudiada por este, casado outra vez e seu segundo marido haver falecido
(Dt 24.1-4; Mt 19.8-9), faz parte da graça oferecer misericórdia para a
reconciliação numa genuína união renovada. A mensagem prática de Oséias
são os dividendos que tal graça retribui (14.47), conforme demonstrado
profeticamente no livro.
1.4.4. Oséias em relação a Jeremias (11.7-9; Jr 9.1-2)
O que Jeremias foi para Judá, Oséias foi para Israel 140 anos antes. Ambos
instaram com o seu povo, implorando o amor de Deus, enquanto o povo
lançava-se à destruição. Ambos ministraram depois de uma época de
prosperidade em toda a nação, seguida de indiferença espiritual e corrupção
moral. Ambos expressaram a tristeza de Deus por ser forçado a divorciar-se do
seu povo por adultério e a permitir sua destruição por um império do oriente (Jr
3.8; Os 2.2-7). Ambos também falaram de uma renovada aliança entre o
Senhor e o seu povo na futura era messiânica (Jr 31.31 e ss.; Os 1.11; 14.1 e
ss.).
1.4.5. Religião depravada de Israel (6.6-10; 9.15-10.2)
Oséias descreve um dos períodos mais indignos da história religiosa de Israel.
Apesar de guardarem religiosamente os rituais, os judeus praticavam a idolatria.
Banditismo era comum entre o povo e até mesmo os sacerdotes reuniam-se para
atacar e assassinar peregrinos no caminho para Siquém (4.11-13,18; 6.9). Toda a
terra mergulhara na prostituição (4.11-14,18; 6.10). Sua hipocrisia era clamorosa.
Por esse motivo, o Senhor prometeu vir como um leão, leopardo, urso e fera
selvagem para despedaçá-Ios e devorá-Ios (5.14; 13.7-8). O reino do norte desfezse
e estava com Judá cento e cinqüenta anos mais tarde, na época de Daniel,
quando o Senhor descreveu
o seu plano de disciplinar a nação por meio dos quatro "animais" (Daniel 7).
Amós, o profeta do sul,já estivera em Samaria para repreender os líderes do
norte pelo seu arrogante orgulho e ausência de misericórdia e justiça. Do
mesmo modo que Amós denunciou o sistema depravado dos seus
compatriotas, Oséias insistiu com eles mostrando o amor divino da aliança.
Tendo rejeitado a correção, estavam sendo destruídos pela "falta de conhecimento"
(4.6) e fadados a ser extintos como nação quase vinte anos mais
tarde.
1.4.6. Cristologia em Oséias
Em Oséias, as referências ao Messias são raras e um tanto indiretas.
(a) O amor divino por Israel, enfatizado pelo profeta, subentende o amor de
Cristo tanto por Israel quanto pela Igreja (Jo 13.1). O Senhor do Antigo
Testamento (YHWH) é a própria Trindade, e o relacionamento "maridomulher"
representa o relacionamento entre o Senhor da aliança e o povo da
aliança. O amor do Novo Testamento entre Cristo e sua Igreja é outra
expressão daquele amor divino, mesmo para os que estão fora daquela
união da aliança (Ef 2.11-14).
(b) A referência de 3.5 que "tornarão os filhos de Israel, e buscarão ao
Senhor seu Deus, e a Davi, seu rei" é provavelmente messiânica. Pode
referir-se ao Próprio Messias como "Filho de Davi" (Mc 12.35). "Nos últimos
dias" os filhos de Israel "tremendo se aproximarão do Senhor " (3.5).
(c) "Do Egito chamei o meu filho" (11.1) é citado em Mateus (2.15) como
uma profecia do Antigo Testamento de que Jesus seria levado ao Egito e
chamado pelo anjo do Senhor. Evidentemente Mateus usa esse texto como
uma "profecia" de Cristo, mostrando o relacionamento íntimo entre o
Messias e Israel, até mesmo tendo experiências semelhantes à aflição
vinda dos gentios e ao livramento de monarcas assassinos.
(d) A vitória de Cristo sobre a morte (13.14; 1Co 15.55).
(e) Deus deseja a misericórdia, e não o sacrifício (6.6; Mt 9.13; 12.7).
(f) e os gentios que não eram o povo de Deus, passam a ser seu povo
(1.6, 9-10; 2.23; Rm 9.25,26; 1Pe 1.10).
Além dos trechos específicos, o Novo Testamento expande o tema do livro
— Deus como o marido do seu povo — e diz que Cristo é o marido de sua
noiva redimida, a igreja (1Co 11.2; Ef 5.22-32; Ap 19.6-9; 21.1-2, 9-10). Oséias
enfatiza a mensagem do Novo Testamento a respeito de se conhecer a Deus
para se entrar na vida (Os 2.20; 4.6; 5.15; 6.3-6; Jo 17.1-3). Juntamente com
esta mensagem, Oséias demonstra claramente o relacionamento entre o
pecado persistente e o juízo inexorável de Deus. Ambas as ênfases são
resumidas por Paulo em Rm 6.23: “Porque o salário do pecado é a morte, mas
o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor”.